era domingo de setembro - usava coturno, uma blusa branca fina com gola em V, uma camisa preta desabotoada e com as mangas dobradas até o cotovelo, uma calça preta social. era ainda madrugada quando chegou ao destino. comeu, pegou um táxi. fez o que tinha que fazer: quatro horas e meia de teste. caminhou depois até um lugar a esmo daquele campus. sentia um calor insuportável, o céu estava nublado, porém a temperatura elevada dava a sensação de estar em uma panela de pressão seca. o seu celular estava com a bateria no fim. quase incomunicável. esperou mais um tempo até que pegou um ônibus vazio que em poucos minutos encheu de pessoas falantes e calorentas - sem saber exatamente para onde estava indo. a única pista era que a condução passava pela praia de Botafogo. pensou consigo que, de todas as situações ruins, ainda poderia pegar um táxi para a rodoviária - nada tão difícil.
tentou se localizar - olhava atentamente às placas com os nomes das ruas e indicações de bairros - tentava, também, relembrar algum fato da televisão para se situar. nada. de repente, estava no centro, logo no bairro de botafogo... um túnel ou dois, um prédio espelhado, uma marina... copacabana das novelas... uma feira hippie de ipanema - onde era o ponto final do ônibus. não teve escolha a não ser descer do coletivo. agradeceu ao cobrador as instruções e pensou, novamente, que nas piores das hipóteses ficaram com pena daquela turista - talvez estrangeira - com tantas roupas para aquela área da cidade. todos estavam com seus biquínis, roupas de banho ou tão à vontade em seus trajes pequenos que poderiam deixar alguém chocado ou apenas extasiado. as pessoas daquele lugar eram realmente bonitas - não por suas belezas físicas, mas pelas energias que emanavam de si. praticavam esportes no calçadão, brincavam, conversavam, admiravam a beleza da praia... sentiu que não fora percebida como uma total perdida - a sensação de estar como uma estranha no ninho não foi tão ruim. observou por pouco tempo as pessoas. queria sair dali, de qualquer forma. caminhou um pouco e saiu da orla. perguntou informações sobre ponto de ônibus. esperou por pouco tempo até o próximo. entrou em um 128, pagou a passagem, sentou-se do lado direito, próximo à porta de desembarque. olhou atentamente as placas e as pessoas que entravam muitas vezes sem pagar a tarifa. sem que esperasse, quase foi testemunha de um atropelamento, fitou uma velhinha que fechara os olhos enquanto o ônibus passava velozmente por um túnel. sentiu uma lágrima teimosa insistir em descer pelo o seu rosto quando passou por um ponto, na av. pasteur, que trouxe lembranças boas de uma pessoa querida. viu quando se surpreendeu ao encontrar o endereço que deveria ter ido se não estivesse ficado "perdida": rua rio branco, 241; festival de cinema, sessão das 14:30. estava atrasada cerca de uma hora. agradeceu ao destino a oportunidade atrasada de assistir ao filme, mas recusou. trocou a passagem para às 16h - impediu que uma lágrima caísse, respirou fundo e seguiu viagem.